quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

SUS - A ATUAL POLÍTICA SOCIAL DO PAÍS.

Aymoré Alvim. SMHM.
 
            Não é exagero afirmar que as origens do Sistema Único de Saúde (SUS) se perdem, nos sonhos por muitos alimentados de ver a saúde como um direito social, ou melhor, como um estado de bem-estar social assegurado pelo Estado de forma universal e equânime.

            Estes sonhos começaram a se concretizar, no pós-guerra, quando, em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinada inclusive pelo Brasil, consagrou no seu bojo a Saúde como Direito Humano.

            Na Conferência Internacional de Cuidados Primários de Saúde, realizada em 1978, em Alma Ata, no Cazaquistão, um novo paradigma assumiu importância, na agenda da Conferência. Foram exigidos dos Governos acreditados na OMS/ONU e de toda comunidade mundial maior  empenho em garantir a proteção e a promoção da saúde a todas as pessoas. Era a prioridade de uma nova ordem mundial com foco voltado para a proposta de Saúde para Todos no Ano 2.000.

            No Brasil, a evolução foi lenta e gradual. Mergulhado numa política sanitária elitista e excludente, no final do período imperial e início do republicano, começa, progressivamente, se desvencilhar dessas amarras e ensaiar suas primeiras tentativas para implantação de um modelo político de saúde e previdência. Apesar das Caixas de Socorros e dos Fundos de Pensões oriundos dos últimos dias do Império, somente em 1923, pressionado pela crescente insatisfação dos operários das cidades, o Governo, pela primeira vez, tomou a decisão de instituir um Sistema Assistencial ao trabalhador brasileiro com a criação das Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAPs), a partir da aprovação da Lei Elói Chaves.

            Essas Caixas, organizadas por empresas e trabalhadores, deixavam à margem os desempregados e trabalhadores informais além de serem organizações frágeis que nem sempre cumpriam com os compromissos assumidos com os que deviam ser beneficiados.

            Esse inseguro quadro mudou com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder. Essas Caixas foram substituídas pelos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs), organizados como autarquias federais de nível nacional.

            Essas instituições que afinal cumpriram, satisfatoriamente, os objetivos para os quais foram criadas não atendiam às demandas da população não contribuinte, ficando a parte mais necessitada a se beneficiar dos precários serviços dos postos de saúde municipais e dos serviços estaduais além de se submeter à condição de indigente, nos hospitais públicos. Apesar disto, esses Institutos resistiram ate 1974 quando foram fundidos, no recém-criado Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (INAMPS) como autarquia vinculada ao Ministério da Previdência e Assistência Social. O Instituto tinha por finalidade atender os filiados do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) do qual foi desmembrado.

            É importante lembrar que a partir do final da década de 1960, novas concepções sobre assistência e previdência passam assumir a agenda política do Governo. O fluxo do campo para as grandes cidades deixou mais à mostra os trabalhadores rurais, para os quais começa a se voltar a atenção do poder público. Em maio de 1971, foi instituído o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL) para garantir a esses trabalhadores dentre outros benefícios serviços de saúde e social.

            Na Constituição Federal, promulgada em 1988, foi criado finalmente um novo modelo de assistência à saúde, único por ser nacional, de responsabilidade dos governos federal, estadual e municipal, dentro dos princípios de universalidade, equidade e integralidade, com objetivos claros de promover, proteger e recuperar a saúde dos brasileiros.

            Antes da extinção do INAMPS, que ocorreu em 1993, e da entrada em definitivo do SUS, o período de transição foi ocupado pelas atividades do SUDS (Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde), um convênio entre o INAMPS e os governos estaduais seguido da incorporação desse Instituto pelo Ministério da Saúde.

            Os problemas e as insatisfações começaram aparecer. Em 1991, o ainda INAMPS assegurou gratuidade total de internação hospitalar, proibindo a complementaridade cobrada pelos hospitais. Como conquista desapareceu a figura do indigente hospitalar. Como problemas, houve grande procura da classe média para os planos de saúde e os pedidos de descredenciamento de serviços médicos por todo o Brasil que se desinteressaram dos convênios pela perda da complementação das diárias quando da passagem de pacientes das enfermarias para os apartamentos.

            O modelo de financiamento dos serviços profissionais também foi se deteriorando, ao longo do tempo, possivelmente corroído pela inflação e nem sempre repostas as perdas, o que, até o presente, tem levado muitos profissionais a greves e abandono dos serviços com negativas repercussões na credibilidade do Sistema.

            Acrescentem-se a tudo isto, as grandes desigualdades regionais e sociais, o aumento, a partir das últimas décadas do século passado, da expectativa de vida dos brasileiros com aumento da prevalência das doenças crônicas degenerativas. Dentre outros complicadores que podemos ainda citar estão as precárias instalações de muitos serviços instalados nas capitais e no interior dos Estados, a má aplicação dos recursos destinados ao financiamento dos serviços além dos desvios que de há muito vêm sendo detectados pelo Ministério Público, além da falta de planejamento das ações, na grande maioria dos municípios e da politização partidária dos Conselhos.

            É, portanto, dentro desse contexto de elevada complexidade que os responsáveis tentam viabilizar o SUS. Será que conseguem?

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