domingo, 29 de dezembro de 2013

25 ANOS DE FUNDAÇÃO DA ACADEMIA MARANHENSE DE MEDICINA




A Academia Maranhense de Medicina foi um sonho de há muito acalentado pelo Dr. Antônio Nilo da Costa Filho que se tornou realidade, na noite de 25 de abril de 1988, em sessão solene que teve lugar, no Teatro Arthur Azevedo, com a presença de autoridades, professores e grande número de médicos e de outros profissionais que testemunharam este importante evento para o Estado.

           
No final de 1987, já contava com o apoio de um significante número de colegas que permitiu ao Dr. Antônio Nilo avançar rumo ao pretendido: Benedito Clementino de Siqueira Moura, Cesário Guilherme Coimbra, José Ribeiro Quadros, Expedito Aguiar Bacelar, Lourival Gomes Bogéa, Carlos Alberto Salgado Borges, Carlos Celso Gomes Nunes, José Venâncio Braga Diniz, Aymoré de Castro Alvim, Maria do Socorro Moreira de Sousa, Ibraim Almeida Filho, Gabriel Pereira Cunha, William Soares de Brito, Antônio Salim Duailibe, Haroldo Silva e Sousa, Antônio Eusébio da Costa Rodrigues, Croce do Rêgo Castelo Branco, Antônia de Arruda Soares, José Epaminondas de Oliveira, Tomé Lima Araújo, Oswaldo Martins Bittencourt, José Vasquez Ver-Valen, Manoel Soares Estrela, Francisco Benedicto de Oliveira Moraes, José Benedito Penha, Maria José Aragão e Orlando Araújo.     

E, assim, foi fundada na noite de 25 de Abril de 1988 a Academia Maranhense de Medicina da qual, no corrente ano celebramos o seu jubileu de prata.
 

Da Medicina Colonial ao SUS, no Maranhão


José Márcio Soares Leite

 
São Luís, capital do Estado do Maranhão, há de ter sido, sem dúvida, a única de nossas capitais que em tempo tão remoto contou com a presença de um médico, o cirurgião francês Tomas de Lastre, entre os que testemunharam sua fundação pelos franceses em 1612 (Meireles.M.M. Dez Estudos Históricos. 1994.A.M.L). No período que esteve entre nós, de 1612 a 1615, deixou um grande exemplo de humanização da medicina, ao atender no Forte Santa Maria (Icatú-MA) os portugueses feridos na batalha de Guaxenduba. Depois do seu retorno à França, ficamos praticamente meio século sem a presença de um médico e à mercê dos curadores e barbeiro-sangradores, praticando toda sorte de mazelas e empirismos no trato das doenças, situação agravada por uma epidemia de varíola.

Existiam nesse século XVII em São Luis dois hospitais: o Hospital Militar, o primeiro do Maranhão, que começou a funcionar desde o início do século, e a partir de 1653 o Hospital da Misericórdia, fundado pelo Padre Antonio Vieira, que funcionava graças à caridade pública em uma casa alugada, tendo sido fechado com o retorno do Padre Vieira a Lisboa, em 1661.

No século XVIII continuamos a ser dizimados por epidemias, pois além da varíola tivemos o sarampo. Surgiu a primeira farmacopéia maranhense, denominada Observação dos Vegetais e, já no final do século, Portugual oferecia bolsas de estudo para quem desejasse graduar-se em Lisboa.

Logo na segunda década do século XIX tivemos a mudança do Hospital Militar, da Rua do Hospital Velho, hoje Santana, para a Ponta de Santa Amaro (final da rua de São Pantaleão), onde funcionou a Casa da Madre de Deus, retiro espiritual dos Jesuítas, passando a denominar-se Hospital Regimental. Nessa mesma década, por iniciativa da Irmandade da Misericórdia, instalou-se o Hospital São José da Caridade, em área contígua à Igreja do mesmo nome, hoje de São Pantaleão. Neste mesmo período, começaram a voltar ao Maranhão os médicos que se graduaram na Europa, substituindo os curadores e barbeiro-sangradores. Em 1836 o Hospital São José da Caridade mudou-se para a rua do Norte, onde permanece ate hoje, com a denominação de Santa Casa de Misericórdia do Maranhão, atualmente de São Luís.

Na segunda metade do século XIX, instalaram-se em São Luis as clínicas privadas do Dr. José Maria de Matos e do Dr. Luiz Miguel Quadros, além do Hospital Português de São João de Deus, na rua do Passeio, inaugurado em 1869 pela Real Sociedade Humanitária 1º de Dezembro. É importante salientarmos que, nesse século, a doença foi mais objeto de assistência social do que da medicina. Ao final do século XIX

começaram a chegar ao Maranhão os médicos formados no Rio de Janeiro e na Bahia, inclusive alguns no interior do Estado. Tivemos ainda nesse século uma epidemia de febre tifóide, tendo sido criada em São Luís uma Repartição da Vacina.

O século XX se inicia com um surto de gripe espanhola e de varíola. Nas primeiras décadas desse século foram criadas as Faculdades de Farmácia e Odontologia e o Instituto de Assistência à Infância e Maternidade, este último por iniciativa do Dr. Tarquínio Lopes Filho, e também o Pronto Socorro dos Ulcerados, pelo Dr. Achiles Lisboa. Na década de 40, o Hospital Achiles Lisboa, para abrigar os hansenianos, o Hospital Presidente Vargas, para os tuberculosos, a Colônia Nina Rodrigues para os doentes mentais, o Complexo Hospitalar Maternidade Benedito Leite e Hospital Infantil Juvêncio Mattos, além do Pronto Socorro de São Luís e o Centro de Saúde Paulo Ramos. No campo da saúde pública, a criação da Secretaria de Saúde e Educação em 1947, confiada ao Dr. Alfredo Salim Duailibe.

Na segunda metade do século XX foram inaugurados o Hospital Presidente Dutra, o Hospital Materno-Infantil e o PAM-Diamante (federais), a Maternidade Marly Sarney, os Hospitais Djalma Marques e Clementino Moura (Socorrões) e o Hospital Infantil Amaral de Mattos. Iniciou-se também a interiorização da medicina, com a implantação de Hospitais Regionais, e foi criada a Secretaria de Saúde Pública do Estado do Maranhão, além de 18 Regiões de Saúde. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, foi instituído o Sistema Único de Saúde (SUS), tendo como princípios basilares o acesso universal e gratuito aos serviços de saúde e o controle social das políticas públicas de saúde.

O século XXI será um século de enfrentamento na saúde pública brasileira, pois o aumento da população de idosos e das doenças crônicas não transmissíveis, que já respondem por 70% da morbimortalidade no Brasil, exige a utilização de procedimentos médicos e medicamentos cada vez mais especializados e de altíssimo custo. Somamos a isso um grave descompasso entre o cumprimento do dispositivo constitucional do direito à saúde e à vida e os orçamentos públicos para a saúde, que, por maior que sejam o esforço e a disponibilidade dos governos nas esferas federal, estadual e municipais, não conseguem acompanhar a despesa sempre crescente de forma vertiginosa da saúde, tendo como consequência o que conhecemos como a judicialização da saúde, que tanto apoquenta os gestores públicos.

No Maranhão, o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Saúde, buscando encontrar um norte para o enfrentamento dos óbices à consolidação do SUS, optou por uma política pública de descentralização, com base regional, de forma a procurar esgotar, nesse nível, as ações de média e alta complexidade. Tem realizado grandes investimentos na construção e nos equipamentos de Hospitais Regionais e Macrorregionais, dotando-os de recursos humanos especializados, capazes de conferir uma resolubilidade integral aos pacientes de forma descentralizada, evitando as filas e o padecimento dos pacientes em busca da atenção médica nos grandes centros urbanos, o que acentua também em demasia os custos desses procedimentos médicos. Os

municípios, por seu turno, precisam e devem cumprir seu papel de promoção da saúde e prevenção das doenças, por meio da atenção primária em saúde, estabelecendo uma rede articulada intra e interregional, nivelada por graus de complexidade crescente e nos quais os sistemas regulatórios e de apoio logístico terão um papel fundamental em todo o processo.

Por quatro séculos trabalhamos de forma centralizada em São Luís. Este será o século da descentralização da atenção à saúde, para outros centros regionais de saúde. Este é o desafio que a realidade impõe e que temos que enfrentar!

*Professor Doutor em Ciências da Saúde; Conselheiro do CRM/MA; Presidente da Academia Maranhense de Medicina e Subsecretário de Estado da Saúde