José Márcio Soares Leite.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjP6ob0a-0qBoYrknbmnBEOFVTdWgzCv57QtrkHnHyeqRIseU8u-Toc6XLc95kShcqV_MglHfuQyOVl_jZBXhHXApjuKlykULl53ZGsdroXtIXhL9vu-8vad1d10a2RPrCkbOnDg0HvDo6y/s1600/Foto-1-reeleito.jpg)
Decorreram 26 anos desde que ilustres médicos maranhenses tomaram a iniciativa de fundar a Academia Maranhense de Medicina, buscando, talvez, inspiração na Académie Nationale de Médecine criada em 1820 pelo rei Luís XVIII de França, e na Academia Nacional de Medicina, fundada sob o reinado do Imperador D. Pedro I, em 30 de junho de 1829, e cuja história confunde-se com a história do Brasil e é parte integrante e atuante na evolução da prática da medicina no país.
Destarte, a Academia Maranhense de Medicina foi fundada e instalada no dia 25/04/1988, tendo como responsabilidade histórica o desenvolvimento e aprimoramento das questões éticas, técnicas e científicas da medicina. Ao longo dos anos, seus horizontes vêm-se alargando em direção a um processo de ampliação das discussões dos assuntos e dos problemas de saúde da população, difundindo à classe médica e a toda a sociedade os princípios básicos dos direitos à vida, à saúde e ao bem-estar da população.
O filósofo Goethe (1749-1832) nos deixou o legado de que “nada sabe de sua arte aquele que lhe desconhece a história”. A História da Medicina está montada em um tripé de grandes vertentes: a histórica propriamente dita, a vertente filosófica e a ética, esta última norteando a postura médica, regulando o exercício profissional e humanizando o ato médico.
Nesse contexto, as conformações que a medicina adquiriu espacial e temporalmente desde Hipócrates (“pai da medicina” – 460 a.C.) até os dias de hoje, são, pois, produtos de uma multiplicidade de processos que se expressam, de uma parte na autonomia relativa da prática médica, e, de outra, nos conjuntos sociais em que essa prática se constitui e se processa.
Tornar-se Acadêmico, portanto, significa que, na sua prática, o médico é reconhecido pelos seus pares como alguém capaz de compreender as pessoas além da doença. É um humanista, desperta a confiança de seus pacientes, sabe da importância do ato médico, das suas atitudes e do uso generoso de suas palavras.
Em sua evolução desde a Academia de Platão, escola fundada pelo célebre filósofo grego nos jardins que um dia teriam pertencido ao herói Akademus e que tinha como objetivo formar novos homens, no sentido transformador do amor ao bem, essas Instituições sempre foram claustros de eruditos; guardiãs, transmissoras e transformadoras de conhecimentos nos vários domínios do saber. Precisamos reconhecer, contudo, que é hora das Academias repensarem seu papel frente à sociedade. Não podem mais permanecer intramuros, isoladas em seu ambiente cultural, pois o mundo vive hoje nova revolução.
A distância entre o que a sociedade e o Estado reconhecem como essencial ao ser humano e a situação real da maioria da população é enorme e crescente. Esse desequilíbrio, que atinge metade ou mais da população brasileira, enfraquece as bases sobre os quais devemos construir uma sociedade mais livre e mais democrática num país próspero e poderoso. Não há tempo, portanto, a perder no trabalho para construir, para o povo brasileiro, as condições de vida que lhe são devidas pela sua própria história.
Temos à nossa frente, médicos e sociedade, juntos, o desafio de construir o caminho e de percorrê-lo com decisão e coragem. Nesse contexto, a Academia de Medicina deve ser o elemento indutor de todo esse processo e o ponto de equilíbrio na indicação dos melhores caminhos a seguir e por ser um centro irradiador de ideários, deve colaborar por meio de intensa produção literária, incluindo a publicação de livros, revistas, periódicos e de artigos, e de um contínuo trabalho de pesquisa, estudos e análises epistemológicas, para o aprimoramento do Sistema Único de Saúde.
Os médicos que nos antecederam, muitos dos quais emprestam seus nomes como patronos de cadeiras na Academia Maranhense de Medicina, puderam exercer suas atividades em épocas de desafios ainda maiores, no que tange à ocorrência de doenças, quer na sua determinação, quer na disponibilidade dos meio-diagnósticos necessários à sua elucidação. Tiveram eles, contudo, o privilégio de poder exercer em sua plenitude o grande postulado médico e ético da relação médico-paciente.
Lembremos neste momento que as sementes resistem mais às intempéries, aos vendavais e aos cataclismas. As sementes que possuem genomas constituídos de idealismos e utopias, como as que estão plantadas nas Academias, de fato resistem muito mais. Não temem nem mesmo o pessimismo, os espíritos retrógrados e as maldades humanas. Nesta era em que vivemos cabeças se tornaram mais importantes do que braços no panorama produtivo. Isso valoriza as Academias, e já sentimos o reconhecimento desse fato na sociedade brasileira.
A Academia de Medicina do Maranhão, pautada nos seus ensinamentos, nos seus exemplos de sabedoria e entusiasmo, vem escrevendo a História da Medicina no Maranhão e contribuindo de forma dinâmica, por meio de seus pares, para seu aprimoramento.
Lutar, portanto, pela conservação dos postulados éticos e da cultura médica, a par da aceitação dos avanços técnico-científicos da medicina que não contrariem esses postulados, este tem sido o papel da Academia Maranhense de Medicina, em seus 26 anos de existência.
• Professor Doutor em Ciências da Saúde. Presidente da Academia Maranhense de Medicina.
Publicado
no jornal O Estado do Maranhão, de domingo, 20/04/14.